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Silêncios

Talvez poesia. Um sondar d'alma e pouco mais.

Silêncios

A Caminho do Natal - A História de Noz, Moo e Dogo

21.08.24, Maria Ribeiro

 

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Fotografia minha

 

     Por altura do Natal, num dos grandes supermercados do país encontravam-se brinquedos por todo o lado! Começavam por ver-se nos anúncios televisivos, cartazes na estrada e nos folhetos das lojas postos nas caixas do correio destaques e promoções. Ao percorrerem-se os vários corredores subordinados ao tema "Brinquedos", viam-se dispostos nas prateleiras e nichos diversos. A muitos que provavelmente que “gostariam de escoar”, punham-nos em grandes caixotes com a indicação: “leve 3, pague 2”. Ou uma determinada e apelativa margem de desconto.
     Numa das ocasiões em que comprar os presentes atempadamente para escapar às enchentes natalícias pareceu boa ideia, mãe e filha que aproveitavam também para comprar artigos em falta na despensa, passaram, vindas dos corredores onde nenhum lhes suscitara o interesse e encantamento que faz com que nos apaixonemos na hora por algum, por um dos enormes caixotes, cheios de peluches.

    Após observarem alguns exageradamente grandes e não muito prácticos, tampouco sedutores, entreolharam-se com alguma frustração. Entre tanta oferta, nada! Parecia-lhes igualmente que tinham atirado para ali, sem "respeito", os maiores e menos bonitos. Aqueles que ocupariam um espaço absurdo num quarto de criança.
"É quase impossível a braços de senhora medianos atingir o fundo num caixote daquele tamanho". - pensou a mãe. — Não obstante, existia nas duas uma pequena réstia de esperança que as impedia de desistir e esquecer o caixote. Optando por comprar noutro lado. Com um bebé a caminho na família, passaram à secção de roupinhas para recém-nascido e demais utensílios para criança. Mas o caixote não lhes saía da cabeça! Estavam longe de sonhar que, lá por baixo, três "animaizinhos" tristes e quase sufocados pelo muito peso sobre si, “lutavam” entre os absurdamente grandes, para alguém reparar neles!
Assustados... nas profundezas do caixote escuro, sempre que alguém remexia o cimo e tirava tudo do sítio não levando nada, mas fazendo com que perdessem a pouca comodidade obtida e a calma do lugar onde se tinham encaixado, desesperavam.
— Nunca sairemos daqui. Passaremos o resto da nossa vida neste caixote escuro, entre outros que nos empurram para chegarem à superfície, até ficarmos sujos e velhos de tanto mexer e remexer. E nesse dia, vão deitar-nos fora! – murmurou um deles.
— Tenhamos fé! Alguém há-de chegar cá abaixo e encontrar-nos. – Disse outro.
— O problema não é encontrarem-nos, mas gostarem de nós ao ponto de quererem oferecer-nos a uma criança. Ou levar-nos-nos, para si. – acrescentou o terceiro.
— Amigos! O que eu gostava era que aparecesse alguém que nos comprasse aos três! Ia ter muita pena de deixar-vos e ficar a pensar no que vos aconteceria. Se encontrariam uma casa, um menino ou menina, para fazer-vos companhia e brincar convosco. – apontou o que falara no início.
— Isso seria óptimo, mas muito difícil! Temos de estar preparados para nos separarem. Ou... nunca conseguirmos sair deste caixote. — afirmou o outro.
— Não! Isso não. Caso aconteça o pior, pensemos que voltaremos a estar juntos. Para onde for um, acabarão por ir os outros. Permaneçamos calmos. Falta algum tempo para o Natal. Até lá, quem sabe... o Menino Jesus não nos dá também o presente de não nos separarem.
— Sim! Uma casa para morar... Um menino ou menina bons que gostem de nós...
— Que nos queira aos três! Isso é que era um milagre!...
Embrenhados na conversa, o caixote abanou de cima, abaixo! 
"Mais um remexer de mãos e nenhuma a chegar até eles".  Estremeceram sobressaltados. 
Cada vez mais desesperados, os três amigos uniram-se um pensamento comum. "E se pudessem fazer-se ouvir! Emitir um sinal, para, de algum modo, repararem neles!"
Nisto, um viu-se ascender até à claridade da loja enfeitada. 
— Olha mãe! Tão fofinho, não achas? - Referiu-se a filha a um lindo Esquilo de expressão cativante e olhos ternos.— Onde estava?
— Mais para baixo, mas a meio, talvez... É tão bonito! Já viste os olhos dele?
A mãe esforçou-se mais e enfiou a mão bem fundo. No movimento ascendente à mostra ficaram igualmente um cão e um touro. Todos do mesmo tom, tamanho e aspecto doce.
 — Ora esta! Quem nos diria que tamanhas fofuras estavam nos confins deste caixote?
 — Não são maravilhosos, mãe! Qual deles o mais querido!
 — Não os vamos levar a todos! Reparaste no preço, mesmo em promoção? Há outras prioridades. Crianças que nunca tiveram um brinquedo...
A jovem elevou o olhar para o cartaz suspenso sobre o caixote e realçou a "oferta" nele indicada. 
— Olha, mãe! “Leve três, pague dois”. Vá, lá... Quando ele vier a nossa casa pode brincar com todos. Eu ajudo-te a pagar. 
— Que grande poder de argumentação e persuasão! Diz-me lá se esse entusiasmo todo não é para ficares com um deles? 
— Ò Mãe! É Natal. Também não ficas babada com estas coisas. Há alguma idade para se deixar de ser criança? 
— Estás coberta de razão! Quero ver os nomes que lhe vais dar. Vamos para a caixa antes que me arrependa ou inventes mais coisas para gastarmos dinheiro.
Se mãe e filha pudessem imaginar e até ouvir a alegria dos três bonecos, lado a lado co carrinho de compras! As suas conversas durante o caminho e quando chegaram a casa, ao entender que doravante teriam um Lar. Agora sim! Parecia Natal. O Menino Jesus compadecera-se deles. Era real! Continuariam juntos e amigos para toda a vida! Indiscutivelmente felizes por acompanharem o crescimento do bebé. Fazerem parte desta bonita família unida!