Artificial(mente)

Imagem: Pixabay, Henriksen19
Um país não é um homem.
Um homem não é outro homem.
Uma cidade sem homens é nada!
E a poesia sem mão humana.
Escrita por qualquer mente fictícia,
por mais bela e rigorosa,
Quer na emoção, quer na forma.
Resulta insossa e raquítica.
Passa a vida alheada.
Dos que ficam e dos que vão.
Os que esbanjam porque sim.
E os que esgravatam por pão.
Uns ilustres cidadãos.
Outros pobres coitados.
Quando ser homem representa…
Ser homem em todo o lado.
Poetas nascem dotados.
Com os dedos calejados,
de transmitir sentimentos recheados com as suas penas.
Vivem amaldiçoados, pelos cantos e sobrados
escrevinhando em todos os lados,
até os há que usam teclados,
porém, a sua mestria
não surge da artificialidade,
mas da dor do dia a dia.
Prosas brotam como água.
Do conhecimento e da mágoa,
fruto de um cérebro activo.
Memórias e alegrias.
Das faltas e o seu castigo.
Livros em branco sedentos de tinta que os desvirgine.
Da mão rolante na página a roçar-lhe a superfície,
violenta ou meigamente,
qual amante ensandecido
Um país não é um homem.
Um homem não é outro homem.
Uma cidade sem homens é nada!
E a poesia sem mão humana.
É algo contranatura.
Como uma vela rasgada atira a barca p'ro fundo...
Uma candeia sem chama acompanha,
ou alumia,
o caminho do moribundo.