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Silêncios

Talvez poesia. Um sondar d'alma e pouco mais.

Silêncios

Como desterrada na minha terra natal

30.07.24, Maria Ribeiro

 

 

 

Foto de Flores De Camélia Branca Camélia Japonica e mais fotos de stock de  Arbusto - Arbusto, Beleza, Beleza natural - Natureza - iStock

Imagem: iStock

 

Não me mói mais nada, ou muito pouco, o resto. Doer-me-à eterna e profundamente a tua falta, meu pai. A tua mãe, mais recente. A vossa partida deixou em mim um buraco que me atravessa cujo frio enregela.
Cavidade que com o passar do tempo contrai-se e alarga, esgarçando-me pele e a roupa, nesta dor tamanha que sem acalmia ameaça transformar-me num glaciar. Sob o sol ténue da manhã, não acho conforto. Sob ele forte, nada se altera.
Sou uma ave sem ninho. Um cão sem dono. Alguém desterrado na sua terra natal.
Não me mói mais nada! O resto é apenas o registo de um percurso, cuja bandeirada se paga no fim. O resto... é a paisagem que passa num vidro entreaberto, enquanto ocupante do veículo da vida. 
Tenho sido forte, chegaste a dizer-mo, mãe. Mas lamento esta fraqueza que me tolhe, condiciona e terás quiçá sentido, quando das tuas perdas, sem o demonstrares. Se as lágrimas no silêncio escorressem levando consigo esta mágoa. Nos voltasse a sensação de estarmos e continuarmos a fazer sentido.
Nunca se pensa no dia que após viver-se uma vida inteira ao vosso lado, temos de passar a viver sem vós!  Ninguém nos preparara, alguém nos avisa! Que depois do primeiro dia, vêm mais. E a paz, a alegria e o estímulo, que nos caracterizaram, diluiu-se sem nota prévia. 
Seguimos então num género de torpor, como adormecidos acordados, na esperança que ainda nesta vida esta dor se apiede e cesse. Mas tal, sente-se na alma. Sabe-se em cada músculo e centímetro de pele... não cessará!  

 

 

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