Não serventia
Imagem: Vecteezy, by Yganko
Servem-me as mãos pratos que alimentam toda a gente.
Confeccionados com sabor e pitadas de amor quente.
Servem-me as mãos para crochetar e laçada após laçada,
a linha reproduzir a figura desenhada.
Servem-mas as mãos para afagar
Para dar colo e proteger.
Servem-me as mãos para estender
Roupa após lavada numa corda, de enfiada.
Servem-me as mãos para grafar.
Palavra sobre palavra.
Rimas e prosas tecer,
como necessita o inquieto,
Desfasado do seu tempo
Que vive para escrever.
Servem-me as mãos para amar.
Todos os preconceitos rasgar.
Perdendo sentido de estar,
e a noção de respirar.
Servem-me as mãos para acenar.
Coisa que não aprecio.
E vulgarmente entristece.
Servem-me as mãos para rezar.
Porque há confiar.
Na intenção profunda da prece.
Servem-me as mãos para lavar o rosto, vestir-me, calçar-me e beber...
Uma chávena de café forte, que bebo quase a ferver.
Servem-me as mãos para reter nelas a onda do mar.
Que me escapa entre os dedos, deixando resquícios de areia. E sal para eu provar.
Servem-me as mãos se acanhada.
Para às bochechas levar, quando me sinto corar e fico atrapalhada.
Servem-me as mãos para revolver, no que me irá condoer.
Que às vezes ao recorrer-lhes, para essa dor esbater, vejo não servirem para nada.