No lugar de onde venho...
No lugar de onde venho, todos me conhecem.
Desconhecidos eram antes, os lugares para onde me dirigi.
Hoje conhecem-me todos os lugares por onde passo.
Mas perderam-se por esses caminhos vastos... muitas das pessoas que conheci.
Vimo-nos já sem surpresas. Coisas, lugares e eu.
Nos canteiros ainda há hortênsias, margaridas e sardinheiras.
Mas... nalgumas varandas fechadas. Já não há cortinas bordadas.
Nem conversas, nem risadas. Há tempo silenciadas, p'las voltas que a vida deu.
As portas continuam azuis.
Porém, no painel de ladrilho que reproduz a cidade.
Faltam peças que caíram. P'ra onde... ninguém sabe.
Que fazem tanta falta ali, para dar sentido ao desenho... como a gente, nas janelas.
No lugar de onde venho todos me viram, menina.
A correr despreocupada. Descendo o bairro, subindo a escada...
Conhecedores do meu nome. Dos meus pais e mais parentes.
Também eu os conhecia. Como aos filhos, com quem brinquei...
Antes de todos crescermos.
E separados, p'la vida, uns dos outros nos perdermos.
Restando apenas alguns, que nos parecem tão poucos.
Dos tantos que conhecemos.