imagem: Freepik   Já não mora a liberdade. Aqui ser igual não é para todos. Aqui é mais um lugar onde estar é um exercício de resistência. Enquanto a vontade existir e o corpo não nos ceda. Aqui é um lavar de fachada. Duma casa apodrecida. Sem interiores que a suportem. A contar com aquela viga, que ainda a mantêm de pé. Aqui há o que se mostra. Apregoado sem substância. Embrulhado em papel de seda, atado com fita piquet. Brilhante. Para disfarçar o que por detrás (...)

  Imagem: Unsplash   Formiga-me um poema nos dedos. Por baixo das mãos paradas há palavras endiabradas, que mos puxam para brincar. Seja isso, escrever e rimar. Seja só não estar sossegada. Nesta forma quase alheada. De ver a vida passar. Debicam-me as mãos as palavras como aves ainda pequenas. Que em pulinhos e espaços breves se atrevem a voar. Debicam-me a ponta das unhas. Como se côdea se tratasse. Assim as alimentasse. O que tenha para dizer, o meu pobre poetar. Fosse (...)

  Imagem: Freepik  A Mulher como a sardinhaQuer-se da mais pequenina.Diz do ditado do povo.Que urge escrever de novo.  Quer-se a Mulher grande ou pequena.Com a mesma intensidade.Pois toda a Mulher vale a pena.É essa a pura verdade.  Foi desde a Mulher primeira.Que Deus botou sobre a Terra.Criada uma intemporal guerra.Entre o Homem e a companheira.  Diz-se que ela o enganou.Cedeu à pérfida SerpenteAos olhos de Deus pecou.E Ele a ambos expulsou do Paraíso para sempre.  Ainda (...)

  Imagem: Freepik   Em tempos fui andorinha. Numa Primavera só minha. Sonhei com a insurgência. E cantei com a resistência. Sobre os telhados da cidade, que finalmente acordava nesse dia em liberdade. Voei sobre um mar de cravos. Ouvi poetas declamar. Vi o povo e os soldados unidos. Alegres e destemidos. De tanques e Jipes saídos Abraçados a caminhar. Não houve lugar aonde fosse. Que não ouvisse cantar. As portas das prisões escancaradas. Para todos de par em par. Pais, (...)