UM NATAL PARA RECORDAR
Corria atrás do peru.
Esbaforido e meio nu.
Um chef com estrela Michelin.
A praguejar contra o bicho.
Que nunca se vira algo assim.
Na véspera em que nasceria...
O nosso Senhor Jesus Cristo!
Preferira-o ao Galo Capão.
Para fazer uma refeição.
Que toda a gente admirasse.
Desde o mais refinado comensal.
Ao crítico de cozinha,
ou casal.
Que à mesa se sentasse.
Mas o bicho esperneava.
E quanto mais o embebedava.
Mais estragos provocava.
Na cozinha em alvoroço.
Até o atacar à dentada.
Rasgando-lhe avental e farda.
Bicando-o até ao osso!
E foi vê-lo ir porta fora.
Que mais ninguém o veria.
Tendo o Chef envergonhado.
Para o restaurante voltado.
Acabando por lhes servir.
Joaquinzinhos de escabeche.
Como uma saladinha fria.
Era linda a decoração.
E a loiça do mais fino.
As toalhas todas bordadas.
Com renas, e azevinho.
Talheres e copos brilhavam.
Sobre o mais alvo e puro linho.
Não poupara na extravagância e caprichara no vinho.
Seria um Natal para recordar.
Um repasto de pasmar.
Que os críticos aplaudiriam.
Convidados e famílias.
Fariam filas lá fora, para o banquete degustar.
Não fosse o peru decidir.
Destruir casa e jantar.