Unha com Carne
Às vezes...
As palavras adquirem-me um rugosidade de disco arranhado, por uma algulha perra.
Tato as espartilho. Compartimento. Limo, aliso.
Para que me saiam civilizadas e dóceis.
Alinhadas.
Bem comportadas.
É compreensível a contrariedade do cativeiro.
A euforia quando se libertam.
O caos em que se transformam.
A descompostura...
Essa sede de voarem.
Às vezes...
Já não sou dona das palavras.
Não consigo apascentá-las.
É o extravio geral.
Naturalmente, têm de cumprir-se. Fluir.
Há dias em que não reconheço aquelas palavras como minhas.
Ficam órfãs. Entregues a si, no mundo.
Dias de embraço completo. Dias... em que se sinto um desastre de mãe.
Incapaz de educar as minhas palavras.
De as manter no redil, ordeiramente agrupadas.
Às vezes...
Não me revejo nelas.
Nem elas em mim.
Não nos pertencemos, de todo!
Mesmo continuando, unha com carne.